sábado, 14 de maio de 2011

Diga-me como usas seu e-mail é direi quem és - Intertipos (Domingos Pellegrini)

Gostei muito desse texto do Domingos Pellegrini, realmente que tipo de usuário de e-mail você é? Diga-me como usas seu e-mail é direi quem és.

  

Intertipos

Publicado em 20/03/2011 | www.sitioterravermelha.com.br


PIADISTA – É aquele que te envia uma fieira de e-mails com piadas racistas ou machistas. Mas, se não fosse assim, será que haveria piadas? E há os que se vingam dos políticos com piadas. Ah, se o Lula gostasse de ler...


SEXISTA – Te envia fotos de mulheres peladas (ou homens pelados, não sejamos homofóbicos), aos montes. Afinal, se os tarados visassem qualidade, em vez de quantidade, não seriam tarados, não é?

CATASTROFISTA – Está sempre comentando algum desastre natural e anunciando o apocalipse. Para o catastrofista ecológico, até o terremoto no Japão foi causado pelas nossas agressões ao ambiente. O catastrofista médico garante que o câncer atingirá 11 em cada dez pessoas até 2030. E, quando a Antártida derreter de vez, o Cristo Redentor terá de levantar o manto porque a água lhe chegará aos pés...


TERNURISTA – Te envia e-mails com imagens de cadela amamentando gatinho, porco lambendo nenê, flor abrindo na neve, criancinha ajudando idoso, bombeiro salvando boneca...


CIVILISTA – Pede para assinar abaixo-assinados contra isso ou a favor daquilo, ou repercutindo denúncias de corrupção, ou apenas babando indignação contra desmandos ou injustiças.


TROCISTA – Só quer tripudiar de alguém que pisou no tomate, ou comemorar deslise de alguma celebridade, ou simplesmente achar graça nalguma desgraça. É o contrário do civilista.


ESPERTISTA – É sagaz, perspicaz e assaz irônico. Te envia fotos de situações que parecem hilárias mas contém algum ensinamento. O espertista é mistura sutil de civilista com trocista.


RECEITISTA – Todo dia te envia receitas para emagrecer, tirar calos, fazer iscas, fazer hortência mudar de cor, ou para explicar quando se deve usar acento no verbo pára, para não confundir com a preposição para. É um espírito servidor a serviço de tudo para todos.


MULTOPISTA – Ensina como anular multas de trânsito, com a insistência de quem crê que o mundo seria um paraíso sem multas de trânsito.


TECNICISTA – Ensina direitinho como melhorar desempenho do computador, bastando fazer algumas coisinhas só compreensíveis para técnicos como ele.


TURISTA – Te envia e-mails de todos os países que visitou, este é o turista de fato. O turista virtual te envia imagens de todos os países que ele sonha visitar.


ORGANICISTA – Não é aquele que toca órgão na internet, é aquele que te envia receitas de comida natural, prega alimentação orgânica, envia foto dele com a família, até o nenê, lambuzados de terra cuidando da horta. E te ensina a fazer sorvete de couve com rabanete sem açúcar.


EFUSIVISTA – Não perde um Natal, uma Páscoa, um ano-novo, sempre te enviando email comemorativo, alusivo, festivo ou simplesmente efusivo.


REDUCIONISTA – Vai reduzindo a linguagem, você virando vc, porque virando pq, até q vc ñ ent + n.


CORRENTISTA – Envia mensagem pedindo para você reenviar, e dali a alguns dias cairá uma fortuna na sua conta bancária. Antes da internet, as correntes eram pelo correio postal, o que faz pensar que, com tanta tecnologia, as pessoas não mudaram tanto...
São apenas alguns de tantos tipos que fazem da internet a maior vitrine da diversidade humana, não é? E você pode deletar!


Um ótimo fim de semana
Tânia

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Um homem precisa viajar - Amyr Klink

Hoje o blogger deu pau. Não consegui entrar para postar o help da minha aluna. Para minha surpresa, o blogger voltou ao normal e comeu a postagem que eu havia feito. Ok. Retornemos ao ponto. 

Eu havia trazido este trecho do Amyr Klink e dito que eu havia gostado embora não soubesse de que obra era.

“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”. Amyr Klink

Minha aluna me respondeu: "Esse trecho faz parte do livro Mar sem fim de Amyr Klink. Estou te deixando o link".

http://www.youtube.com/watch?v=wFfeolX-Rrg&feature=player_embedded#at=60

Obrigada Giselle.

É interessantíssimo. Temos 2 livros do Klink em casa, mas quando fui ler eu era muito nova e nem tanto interessada em viagens assim.
Só agora que encontrei o trecho e me encantei.

Ah, se não conseguir acessar o vídeo é que o youtube não está de bom humor hoje também.
A internet está uma nhaca nesta sexta-feira 13.

Vamos que vamos.
Abç
Tânia 


quarta-feira, 11 de maio de 2011

Exagerado! - Ombudsman - Suzana Singer

Muito interessante esta análise. Quais os limites da cobertura jornalística?
Para refletir.
Abç e uma ótima quarta.


"SENSACIONALISTA", no jornalismo, é sempre um xingamento. Uma cobertura que incomoda pelo exagero é logo rotulada assim, como se ela não estivesse à altura de quem lê, assiste ou navega na rede.
Levam a pecha de sensacionalistas os programas de TV policiais do tipo ""Brasil Urgente", o extinto jornal "Notícias Populares", os tabloides ingleses com seus inúmeros escândalos sexuais...
Um caso excepcional como o do massacre em Realengo confunde, porém, os parâmetros convencionais. Está certo mostrar foto do atirador morto? Faz sentido filmar o momento em que uma mulher avisa o marido que a filha deles foi morta? Uma revista pode titular na capa que ""o monstro mora ao lado"?
Não há resposta correta para essas perguntas, tiradas de exemplos da Folha, "Jornal Nacional" e ""Veja", e não de publicações consideradas populares. Em uma história tão trágica, é difícil distinguir a informação legítima da tentativa única de provocar comoção.
A imagem de Wellington Menezes de Oliveira caído na escada, ensanguentado, criticada por muitos internautas ("Exploração do sangue, coisa de tabloide"), é justificável quando se pensa que, naquele dia, era a única foto recente do atirador e que ela mostrava as circunstâncias da sua morte. Havia informação ali, não era gratuito.
Expor o sofrimento é outro problema sempre delicado. A Folha não foi tão longe quanto a televisão, mas mesmo assim criou desconforto. "Infeliz a foto de capa no dia 9, na qual uma mãe chora no túmulo da filha. A dor da mãe não é notícia, é exploração do sentimento alheio. Francamente, esta não é a Folha que eu conheço", revoltou-se o produtor José Américo Magnoli, 46.
De novo, é muito difícil determinar a linha que separa o que faz sentido do que é apelação. Um drama dessas proporções, ocorrido em uma escola, não é um assunto estritamente familiar. As vítimas choram em público e com o público - não parecia haver gente incomodada com a presença das câmeras.
Para não resvalar no sentimentalismo fácil, o segredo é não carregar nas tintas. O simples relato dos acontecimentos e as falas dos alunos já impressionam tanto que não é preciso ""forçar a barra".
A Folha cedeu a essa tentação na hora de relatar o enterro das crianças, quando publicou que "apenas o choro de uma mãe amparada por parentes, o ranger dos carrinhos carregando caixões e o murmúrio das lágrimas contidas quebravam o silêncio com que 11 das 12 crianças mortas no massacre na escola Tasso da Silveira foram enterradas no Rio".
Só que não foi um enterro único, foram pelo menos três. Todos tiveram o mesmo clima, o mesmo silêncio opressor? Pouco provável.


FAMA
A descrição do atirador é outro ponto que continua gerando controvérsia. Mesmo as publicações que recusaram a saída fácil de xingar Wellington (""animal", ""psicopata", ""monstro") estão sendo censuradas por darem destaque demais a ele.
"Especialistas são unânimes em afirmar que quanto maior a divulgação do assassino, maiores as chances de haver novos casos, pois a sociedade está cheia de malucos como o de Realengo. A Folha, em nome do sensacionalismo e do número de acessos, coloca o vídeo do atirador em destaque, dando-lhe exatamente o que ele queria", criticou o engenheiro José Luiz Perez, 54.
Assim que novas fotos do atirador de Realengo fazendo pose com armas apareceram no site da Folha, na sexta-feira, uma nova onda de revolta surgiu. "É uma irresponsabilidade da imprensa, que, tirando o máximo proveito da tragédia, veicula informações que pouco acrescentam, mas que premiam o comportamento do louco", "Não aguento mais entrar na Net e olhar para a cara desse @#$%¨!", "Estão fazendo do atirador um mártir", criticaram vários internautas.
A carta-testamento, as fotos e os vídeos de Wellington não deixam muita dúvida de que ele esperava que o seu feito ganhasse repercussão, que a explosão de violência acabaria por dar algum sentido à vida que ele logo perderia. Mas não dá para privar os leitores dessas informações em nome de uma discutível consequência sobre outras mentes atordoadas.
Não há outro jeito de fazer uma boa cobertura de um caso como esse sem traçar um perfil alentado do responsável por tanta desgraça, mesmo que seja numa tentativa vã de encontrar lógica onde não há.
É necessário evitar a redundância, mas sem impor uma interdição em torno do que é mais intenso. São desagradáveis as fotos de Wellington colocando o leitor sob a mira do revólver. Mesmo assim, é melhor ter a chance de virar a página rapidamente do que nem ter essa opção.


Fonte: Folha de São Paulo, domingo, 17 de abril de 2011.  

terça-feira, 10 de maio de 2011

DANUZA LEÃO - Perigosos pensamentos

Gostei desse texto. Sabemos que não dá para sair falando um monte de coisas que der na telha.
Uma ótima terça



Será possível que duas pessoas, por mais que se gostem, possam mesmo dizer o que pensam?



Dizem que tudo precisa ser dito, conversado, falado. Mas será mesmo? Se decretarem que um dia no ano, um só, as pessoas vão poder dizer o que lhes passar pela cabeça, o mundo explode em meia hora.
Será possível que duas pessoas, por mais que se gostem, possam mesmo dizer o que às vezes pensam? Não, ninguém suportaria conhecer o verdadeiro pensamento do outro, seja do amado, do amigo, do irmão.
Com maior ou menor facilidade, os impulsos podem ser contidos: a vontade de fumar, de se atirar da ponte, de dar um tiro no marido. Só não se consegue controlar os pensamentos.

Imagine se o papa, na hora de uma daquelas cerimônias do Vaticano em que ele diz sempre a mesma coisa -que está preocupado com alguma crise em algum país do mundo-, se distrair e pensar em sua dor na coluna, e como seria melhor estar na cama com um pijama confortável, sem aquelas roupas engomadas, sem o sapato vermelho de Armani. Nada demais, pois nem pecado é -acho. Mas será que a fé é suficiente para que ele não pense em coisas tão frívolas? E se Sua Santidade achar que pensar em conforto naquela hora é pecado, vai perguntar a quem? Será que papa se confessa?

Crianças, quando muito novinhas, falam tudo o que lhes passa pela cabeça, o que às vezes provoca grande mal-estar. São capazes de dizer para a madrinha que ela é feia, e o pior é quando contam coisas que viram, o que pode ser extremamente perigoso. Dois pés se tocando debaixo da mesa, uma passada de mão entre duas pessoas no corredor ou na cozinha. Elas percebem, e como não aprenderam ainda o que é censura, contam tudo o que viram ou ouviram -isso quando não acontece um sutilíssimo pequeno suborno para que não diga nada.

Dependendo da autoridade de quem suborna, ela até cumpre o acordo, e começa aí seu longo e doloroso aprendizado sobre a vida. Mas criança é criança, e se um adulto não consegue controlar seus pensamentos, ela não consegue controlar sua língua, e um dia conta tudo, e exatamente para quem não devia; eis a encrenca armada.

No final todos se entendem e acaba sobrando para ela, que -vão dizer- inventou tudo, e ainda vai levar pela vida a dúvida sobre se viu de verdade ou se imaginou. Terá visto mesmo ou é má e tem péssimos instintos, como disseram?

Mas de bobas as crianças não têm nada; quando fingem ter tido um pesadelo, entram no quarto dos pais à noite e veem os dois nus na cama, fazem as mais loucas fantasias sobre o que viram, mas não perguntam nem falam nada com ninguém, pois intuem que aquele é um terreno minado.

Eu não disse que os pensamentos são incontroláveis? A ideia era escrever uma crônica com princípio, meio e fim, mas é só a gente se distrair e eles vêm vindo sem rumo, sem freio, e da lembrança de ir à farmácia comprar vitamina C passa-se para remédios e para os genéricos, que têm as mesmas propriedades, custam mais barato, mas nenhum médico receita, para Brasília, a política, os escândalos, o Imposto de Renda que vem voraz, o contador que vai pedir um milhão de papéis impossíveis de serem encontrados, os novos portais, a realidade virtual, o futuro desconhecido, todas as coisas que não conseguimos compreender.
O jeito seria ter uma disciplina mental que impedisse nossos péssimos e inevitáveis pensamentos, mas será que alguém consegue? E será que alguém quer perder esse que talvez seja nosso único direito?
Fonte: Folha de São Paulo, 17 de abril de 2011. Caderno Cotidiano. 

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O que cada um tem por dentro - LFV

Simplesmente adoro este texto do Luis Fernando Verissimo. Freud explica. E o amor está sujeito. rsrs

Espero que gostem.

Uma ótima semana

******

O que cada um tem por dentro - Luis Fernando Verissimo

Ela tem, delegado, um nariz arrebitado, mas isso não é nada. Nariz arrebitado a gente resiste. Mas a ponta do nariz se mexe quando ela fala. Isso quem resiste? Eu não. Nunca pude resistir a mulher que quando fala a ponta do nariz sobe e desce. Muita gente nem nota. É preciso prestar atenção, é preciso ser um obsessivo como eu. O nariz mexe milímetros. Para quem não está vidrado, não há movimento algum. Às vezes só se nota de determinada posição, quando a mulher está de perfil. Você vê a pontinha do nariz se mexendo, meu Deus. Subindo e descendo. No caso dela também se via de frente. Uma vez ela reclamou, "Você sempre olha para a minha boca quando eu falo". Não era a boca, era o nariz. Eu ficava vidrado no nariz. Nunca disse pra ela que era o nariz. Delegado, eu sou louco? Ela ia dizer que era mentira, que seu nariz não mexia. Era até capaz de arranjar um jeito de o nariz não mexer mais.
Mas a culpa, delegado, é da inconstância humana. Ninguém é uma coisa só, nós todos somos muitos. E o pior é que de um lado da gente não se deduz o outro, não é mesmo? Você, o senhor, acreditaria que um homem sensível como eu, um homem que chora quando o Brasil ganha bronze, delegado, bronze? Que se emocionava com a penugem nas coxas dela? Que agora mesmo não pode pensar na ponta do nariz dela se mexendo que fica arrepiado? Que eu seria capaz de atirar um dicionário na cabeça dela? E um Aurelião completo, capa dura, não a edição condensada? Mas atirei. Porque ela também se revelou. Ela era ela e era outras. A multiplicidade humana, é isso. A tragédia é essa. Dois nunca são só dois, são 17 de cada lado. E quando você pensa que conhece todos, aparece o décimo oitavo. Como eu podia adivinhar, vendo a ponta do narizinho dela subindo e descendo, que um dia ela me faria atirar o Aurelião completo na cabeça dela? Capa dura e tudo? Eu, um homem sensível?
Eu deveria ter desconfiado que o nariz arrebitado não era tudo. Que ela tinha me enganado com seu jeitinho de falar, com o apelido que me deu, "Guinguinha", veja o senhor, "Guinguinha", que só depois eu descobri era o nome de um cachorro que ela teve quando era pequena e morreu atropelado. E que ela tinha aquelas outras por dentro. Tudo bem, eu também tenho outros por dentro. Nós já estávamos juntos um tempão quando ela descobriu que eu sabia imitar o Silvio Santos. Sou um bom imitador, o meu Romário também é bom, faço um Lima Duarte passável, mas ninguém sabe, é um lado meu que ninguém conhece. Ela ficou boba, disse "Eu não sabia que você era artista". Também sou um obsessivo. Reconheço. A obsessão foi a causa de nossa briga final. Tenho outros por dentro que nem eu entendo, minha teoria é que a gente nasce com várias possibilidades e, quando uma predomina, as outras ficam lá dentro, como alternativas descartadas, definhando em segredo. E, vez que outra, querendo aparecer. Tudo bem, viver juntos é ir descobrindo o que cada um tem por dentro, os 17 outros de cada um, e aprendendo a viver com eles. A gente se adapta. Um dos meus 17 pode não combinar com um dos 17 dela, então a gente cuida para eles nunca se encontrarem. A felicidade é sempre uma acomodação. Eu estava disposto a conviver com ela e suas 17 outras, a desculpar tudo, delegado, porque a ponta do seu nariz mexe quando ela fala.
Mas aí surgiu a décima oitava ela. Nós estávamos discutindo as minhas obsessões. Ela estava se queixando das minhas obsessões. Não sei como, a discussão derivou para a semântica, eu disse que "obsedante" e "obcecante" eram a mesma coisa, ela disse que não, eu disse que as duas palavras eram quase iguais e ela disse "Rará", depois disse que "obcecante" era com "c" depois do "b", eu disse que não, que também era com "s", fomos consultar o dicionário e ela estava certa, e aí ela deu outra risada ainda mais debochada e eu não me aguentei e o Aurelião voou. Sim, atirei o Aurelião de capa dura na cabeça dela. A gente aguenta tudo, não é delegado, menos elas quererem saber mais do que a gente. Arrogância intelectual, não.
- O Estadao de S.Paulo

domingo, 8 de maio de 2011

Aquiles e a verruga - Roberto Gomes

E pode? rsrs
Espero que riam com o inusitado dessa história.

Aquiles e a verruga - Roberto Gomes
Foi uma paixão fulminante. Um encontro casual numa sorveteria, uma noite num bar, um fim de semana no litoral. Estavam apaixonados. Duas semanas depois, resolveram morar juntos. Alugaram um apartamento minúsculo, onde mal cabiam os dois – e era isso mesmo que eles queriam. Juntos para sempre.
Passaram semanas esquecidos do mundo, entre o trabalho e o apartamento, onde viviam de refeições pedidas por telefone e DVDs assistidos até a madrugada. Era o amor, dizia ele. É o amor, ela respondia.
Até que numa madrugada, especialmente cálida e movimentada, ela ficou subitamente tensa, deu um salto da cama e exclamou:
– Você tem verruga!
– Tenho o quê?
– Verruga. Uma verruga horrorosa.
Ele tinha mesmo uma verruga no calcanhar esquerdo, já nem lembrava dela.
- É, tenho.
Ela acendeu a luz e saiu em busca do roupão, no qual se embrulhou, pudica.
– Por que não me disse antes?
– Por que eu deveria ter falado disso?
– Eu tenho horror a verrugas.
Ele tentou brincar:
– Você tem horror a verrugas. Eu tenho uma só.
– É o bastante. Você deveria ter falado disso.
– Da verruga?
– Da verruga. Estamos juntos há dois meses e você nunca me falou dela.
– Dela?
– Da verruga. É como se você mentisse para mim esse tempo todo.
– Mentisse? Mas você ficou doida, criatura? Eu tenho uma verruga, só isso.
– No tendão.
– Tudo bem, Outros têm verruga no dedo indicador. – tentou novamente fazer uma brincadeira – Se ainda fosse...
– Não faça piadinhas! É sério. Tenho fobia a verrugas.
– Não acredito. Você tem certeza de que não está brincando?
– Imagina! Não brinco com verrugas! É coisa séria.
Ela abriu o guarda-roupa, apanhou uma mala e começou a recolher suas roupas.
– O que você está fazendo? perguntou ele.
– Vou embora.
– Por causa de uma verruga?
– Isso mesmo. Não suporto verrugas. Tenho fobia.
Ele se levantou da cama e, inexplicavelmente, se sentiu chocado com a própria nudez. Colocou a calça do pijama. Aproximou-se dela. Ela gritou:
– Não me toque! Não ponha a mão em mim!
Ele abriu os braços, patético:
– Mas... E nossa paixão? Nossos sonhos? Nossos planos?
– Tudo acabado.
– Por causa de uma verruga?
– Por isso mesmo – disse ela, enfiando-se num jeans e numa camiseta.
– E se eu tirasse a verruga?
Colocando o tênis, ela dirigiu a ele um olhar cheio de pânico:
– Não adianta. Volta. Verruga é para sempre. Você corta aqui, ela renasce. Pula para outro lugar. Passa de um dedo para outro. Sinto muito.
Arrastou a mala até a porta, apanhou as chaves e disse:
– Amanhã eu volto para pegar o resto das minhas coisas. Adeus.
Antes de fechar a porta, ela apagou a luz e ele ficou ali, de pijama, no meio da sala, no escuro. Sozinho. Ele e a verruga. (Publicado em 10/05/2009)

Um ótimo dia das mães.
Abç
Tânia