LEITURA SENSORIAL
Antes de ser um texto escrito, um livro é um objeto; tem forma, cor, textura, volume, cheiro. Pode-se até ouvi-lo se folhearmos suas páginas. Para muitos adultos e especialmente crianças não alfabetizadas essa é a leitura que conta. Quem já teve oportunidade de vivenciá-la e de observar a sua realização sabe o quanto ela pode render.
Na criança essa leitura através dos sentidos revela um prazer singular, relacionado com a sua disponibilidade (maior que a do adulto) e curiosidade (mais espontaneamente expressa). O livro, esse objeto inerte, contendo estranho sinais, quem sabe imagens coloridas, atrai pelo formato e pela facilidade de manuseio; pela possibilidade de abri-lo, decifrar seu mistério e ele revelar – através da combinação rítmica, sonora e visual dos sinais – uma história de encantamento, de imprevistos, de alegrias e apreensões. E esse jogo com o universo escondido num livro vai estimulando na criança a descoberta e aprimoramento da linguagem, desenvolvendo sua capacidade de comunicação com o mundo. Surgem as primeiras escolhas: o livro com ilustrações coloridas agrada mais; se não contém imagens, atrai menos. E só p fato de folheá-lo, abrindo-o e fechando-o, provoca uma sensação de possibilidades de conhecê-lo; seja para dominá-lo, rasgando-o num gesto onipotente, seja para admirá-lo conservando-o a fim de voltar repetidamente a ele.
(...)
Melhor que qualquer tentativa de explicar isso é buscar novamente o relato de Sartre: “Eu não sabia ainda ler, mas já era bastante esnobe para exigir os meus livros... Peguei os dois volumezinhos, cherei-os, apalpei-os, abri-os negligentemente na ‘página certa’, fazendo os estalar. Debalde: eu não tinha a sensação de possuí-los. Tentei sem maior êxito tratá-los como bonecas, acalentá-los, beijá-los, surrá-los. Quase em lágrimas, acabei por depô-los sobre os joelhos de minha mãe. Ela levantou os olhos de seu trabalho: ‘O que queres que eu leia, querido? As fadas?’ Perguntei, incrédulo: As fadas estão aí dentro?”
Já os adultos tendem a ter uma postura mais inibida diante do objeto livro. Isso porque há, sem dúvida, uma tradição de culto a ele. (MARTINS, 2005, p. 42-44).
MARTINS, Maria Helena, O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 2005.
Inspirada neste trecho em que Martins fala da leitora sensorial, do livro entendido como um objeto, enfim, da leitura estética que precede ou se desenrola concomitantemente as outras, compartilho um livro que comprei em 1997 tão somente porque é composto de excertos de clássicos, acompanhado de imagens e pasmem: cheiro.
Capa
Sumário
Leitura deleite
Introdução
Shakeaspeare
Meu texto favorito no livro
Nenhum comentário:
Postar um comentário