sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Violeiro - Elba Ramalho

Gosto muito das músicas da Elba Ramalho e da nossa MBP em geral.
Estou ouvindo um pouquinho dessas músicas que são pura poesia.


Adorei o refrão 
Amor, forria, viola, nunca dinheiro
Viola, forria, amor, dinheiro não


Pode procurar no Aurélio e no Houaiss. Forria não existe. Numa conversa sobre isso com meu pai, ele sugeriu a palavra 'alforria', que no Aurélio traz duas definições: 1) Liberdade concedida ao escravo; 2) Libertação de qualquer jugo ou domínio. 

Sabemos que por razões de soniridade e musicalidade as palavras são modificadas ao gosto do escritor/compositor.

E alforria fecha completamente o sentido, pois a música fala de um violeiro que anda, que está em diferentes lugares e que não aceita o convite do Rei para permanecer. 


Infelizmente não há vídeo dessa música para trazer aqui.



O Violeiro Elba Ramalho

Vou cantar num canto de primeiro
As coisas lá da minha mudernagem
Que me fizeram errante violeiro
Eu falo sério e não é vadiagem
É pra você que agora está me ouvindo
Eu juro inté pelo santo menino
Virgem Maria que ouve o que eu digo
Se for mentira que me mande um castigo

Ia pois pro cantador e violeiro
Só há três coisas nesse mundo vão
Amor, forria, viola, nunca dinheiro
Viola, forria, amor, dinheiro não

Cantador de trovas e martelos
De gabinetes, ligeira e mourão
Ai cantador corri o mundo inteiro
Já inté cantei nas portas de um castelo
De um rei que se chamava de João
Pode acreditar meu companheiro
A dispois de eu ter cantado o dia inteiro
O rei me disse fica
Eu disse não

Se eu tivesse de viver obrigado
Um dia e antes desse dia eu morro
Deus fez os homens e os bichos tudo forro
Já havia escrito no livro sagrado
Que a vida nessa terra é uma passagem
Cada um leva um fardo pesado
É o ensinamento que desde a mudernagem
Eu trago dentro do coração guardado

Tive muita dor de não ter nada
Pensando que nesse mundo é tudo ter
Mas só depois de penar pelas estradas
Beleza na pobresa é que fui ver
Fui ver na procissão louvado seja
Mal assombro das casas abandonadas
Coro de cego nas portas das igrejas
E o ermo da solidão nas estradas

Pispiando tudo do começo
Eu vou mostrar como se faz um pachola
Que enforca o pescoço da viola
E revira toda moda pelo avesso
Sem reparar sequer se é noite e dia
Vai hoje cantando o bem da forria
Sem um tostão na cuia o cantador
Canta até morrer o bem do amor


*Inveja desse violeiro.
** Bjs
*** Bom fim de semana


2 comentários:

  1. Cantar é bom,maravilhoso, embala a alma.O poeta canta e encanta com seu canto. E, como diz o velho ditado popular -- " quem canta seus males espanta."

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  2. Verdade Edna!
    Aos poucos estou resgatando músicas que ouvia na infância.

    Acho a nossa MPB uma coisa espantosamente poética. Adoro.
    Obrigada pela visita.

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