segunda-feira, 1 de novembro de 2010

DEMOCRACIA DO MEU UMBIGO

No último mês abandonei meu blog. Abandonei, mas fui educadinha com os possíveis visitantes e disse que estaria ausente, lendo, pesquisando, devorando a mídia e tudo o mais nesse processo eleitoral. Quem sofreu com isso? Meu namorado e, talvez, alguns seguidores no twitter... porque eu me tornei uma militante. Militante no bom sentido: não enviei e-mails e tweets a ninguém. Alguns excessos ficaram na minha página apenas, principalmente, nos RTs sobre a bolinha de papel, que com um humor pra lá de debochado, me trouxeram diversão. Mas a lista de afetados pára por aí.



Eu assisti de camarote as mudanças ocorridas no nosso modo de lidar com a mídia. Vi a movimentação das hashtags: #serrarojas #serracafetão #bolinhadepapel #brasil13 #atr45o, havia as de apoio ao Serra: #BR45IL, #serra45. Testemunhei a agitação.


Vejo que o twitter virou um espaço recheado, tanto de banalidades cotidianas quanto de assuntos muito sérios, como: preconceito, rodeios de gordas, aborto, entre outros. Tornou-se o lugar de coisas pertinentes e de grandes bobagens também, assim como, o espaço privilegiado de conhecimento coletivo e de ignorância partilhada.


Bom, após este mês, em que a política roubou minha atenção, estou vivendo um dia de descanso, no nosso feriado prolongado, e quero discutir algumas regras, que fui percebendo nessa lida no e com o ciberespaço.


Primeiro, defendo o direito de qualquer pessoa blogar e twittar os seus assuntos de interesse, sem moderação: 10 postagens diárias, 1000 tweets diários sobre música ou política, sobre o que deseja, à vontade. Li um tweet em que alguém dizia: reclamar do tweet alheio é uma coisa muito chata, é como aquela carona que pede para trocar a música que você está ouvindo. Eu nunca reclamei do tweet de ninguém, embora considere exagerada a quantidade de tweets sobre Geisy Arruda, Fiuk, Restart e Preta Gil. Azar meu. Quem manda seguir perfis supostamente o tempo todo engraçados? Uma adaptação bem interessante é o que uma amiga disse “unfollow é a serventia da casa”, releitura da frase “a porta é a serventia da casa”, usada tantas vezes para disciplinar filhos rebeldes.


Tudo isso me fez refletir sobre a liberdade, ou não, que gozamos nas redes sociais.


Que pensamos diferentemente é fato. Que nossas visões de mundo se chocarão é fato também. Eu escolhi a senhora Dilma para eleger e, embora eu nunca antes tenha revelado meu voto, este ano resolvi militar. Postei manifestos favoráveis a ela no meu blog (porque entendo, sim, que a mídia sonega informações) e em alguns fóruns por aí. O que eu não esperava era que, por um momento de distração, com a publicação de meu e-mail, encontraria a mensagem de um troll na minha caixa, me dizendo desaforos. Devolvi na mesma moeda e ele veio me acusar de Ptralha, etc., numa linguagem extremamente chula. Devolvi numa moeda maior, ele se calou. Troll faz parte da vida no ciberespaço. Ok.


E quando o inconveniente é uma pessoa da sua lista de contatos? Uma pessoa começou a encher minha caixa de e-mails de mensagens anti-Dilma (se pelo menos fossem pró-Serra). Lá pelo quinto, ela continuou a sua tentativa de conversão. Eu escrevi, respeitosamente, e disse: voto Dilma, por favor, tire-me da sua lista anti-PT. Ela ignorou meu pedido veementemente. A gota d’água foi quando me mandou um com as contas de quanto cada estado paga de impostos e como o Nordeste, que dependeria de esmola, seria a região a eleger o presidente. Aí, a minha paciência, que considero até grandinha, foi para o espaço sideral. Nessa altura, já era a vigésima mensagem...


Mandei um: preconceito, hein, colega?


Ela: Preconceito nao!Infelizmente a realidade no meu ponto de vista,mais vivemos em um pais onde ainda existe a democracia e cada um tem o direito de pensar e ter sua opiniao.


Eu: Bom, democracia é respeitar a opinião dos outros, como vc mesma diz, e isso inclui respeitar a caixa de correspondência alheia.


Vc é o único contato pró-serra que fica enchendo minha caixa de correspondência. Não fiquei recebendo e-mails nem de Dilma nem de Serra.


Muito obrigada por compartilhar a sua opinião.


Mudou a minha vida.


Ela: Achei que vc fosse uma pessoa mais educada, pois recebo um monte de coisas que também nao gosto mais respeito e não fico sendo mal educada com os meus contatos.Nao sou a favor do Serra,sou contra o PT. (Mantenho como no original).


Regras do vôlei dizem: levantou tem que cortar. Respondi: eu sou educadíssima. Vc ser anti-PT é um direito inquestionável seu. Aliás, em nenhum momento questionei isso. Agora, veja a situação: eu te peço, educadamente, para vc me excluir da sua lista anti-petista e vc me manda, dentre trocentos e-mails, um que vc diz que seu cachorro é petista???? Aí eu te mando vários pró-Dilma pra ver se vc se toca ou lembra de me excluir da sua lista, e vc continua me impondo a sua visão de mundo... Como eu te disse, dos trocentos contatos que tenho, vc foi a única que insistiu.Quem está sendo mal educada? Se vc quer respeito, respeite.


Confesso que eu poderia ter levado com melhor humor a situação e ter dito: dê seu título para seu cachorro. Mas, enfim, perdi a piada. Depois disso, ela me mandou mais um “mimimi” que eu decidi ignorar porque se a pessoa julga estar certa ao lotar minha caixa com mensagens, as quais eu pedi respeitosamente para não receber, como vou convencê-la do contrário?


Outro fato, que me aborreceu, foi o repasse de um e-mail anti-Dilma, com suposta listagem de personalidades que pediam para não votar na candidata. Quando fui buscar informações no Google, a primeira informação era inverídica e outras eram distorcidas, umas 3 eram verdadeiras, mas eram justamente sobre as intromissões das igrejas no processo eleitoral (acontecimento sobre o qual nem vou perder meu tempo discorrendo qualquer argumento).


Minha chateação parte do seguinte raciocínio: o remetente é uma pessoa que tem curso superior e, atire a primeira pedra quem nunca repassou um e-mail sem maiores questionamentos, o ponto onde quero chegar é: nossas relações no ciberespaço vão se aprimorando e um e-mail enviado por um contato assume valor diferente quando você sabe que vem de uma pessoa “teoricamente mais politizada” com a intenção de te “politizar”.


Explico-me melhor: 1º correntes não fazem meu voto; 2º checo toda mensagem sobre candidatos; 3º não repasso aquilo que não chequei. Por exemplo, um e-mail sobre mensalão, eu leio porque foi algo que existiu, de fato. Agora, um e-mail que diz que o Gilberto Gil pediu para não votar em Dilma, eu faço buscas imediatamente para constatar a veracidade. Quando recebi um e-mail, supostamente da Marília Gabriela, falando porque não votaria em Dilma, suspeitei prontamente... e, mais tarde, ela concedeu entrevistas nas quais desmentiu a autoria. O que quero deixar claro é que, na medida em que temos maior escolaridade, aumenta nossa responsabilidade em não alimentar hoaxes, ou seja, os embustes cibernéticos.


Além deles, uma pessoa me mandou um convite oficial para aderir à campanha do Serra. Agradeci, disse que votaria na Dilma e ficou por isso mesmo.


E por último, a falta de respeito maior que sofri em minha caixa de correspondência, partiu da Equipe 45, enviando-me constantemente mensagens para conquistar meu voto. No print, vocês veem 8 delas, e eu já havia deletado umas 3.


Em que mundo Serra e a equipe dele vivem para ignorar as regras que regem o envio de SPAM? Antes, o lixo eram os santinhos jogados nas ruas, agora o lixo é também virtual. Li ainda que Soninha esteve envolvida na criação de sites fakes, e achei bem feito que o site do Serra foi hackeado. Não que eu concorde que hackers possam ficar aí zuando essa gente tão séria, mas, no caso do Serra, devolveram na mesma moeda o seu desrespeito no ciberespaço.


Cansei de Orkut e de Facebook, e olha que são bem mais light. Espero não cansar do twitter porque gostei de ver as defesas que fizeram de ambos os candidatos, mas não gostei nadinha de ver a xenofobia resultante após a divulgação do resultado (isso rende outro post).


Enfim, a democracia do umbigo e da imposição ideias (ou da falta delas) prevalece no twitter, nas redes sociais, e por aí.


O respeito, pelo qual tanto lutamos no dia-a-dia na vida real, merece ser repetido na virtual.


Grande abraço


Tânia

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