Não sei por quanto tempo o escritor Moacir Scliar colaborou com a Folha de São Paulo. Por certo período, acompanhei os textos que ele escrevia a propósito das manchetes veiculadas no jornal. Um desses textos é esse que reproduzo aqui, Prece de Internauta, que ele escreveu após a manchete O papa João Paulo 2º está pensando em nomear Santo Isidoro de Sevilha como padroeiro dos usuários da Internet. Publicado na seção Mundo, do mesmo jornal, em 7 de fevereiro de 2001.
Meu encantamento com este texto foi imediato, até porque na época dei muita risada imaginando a pessoa rezando para o Santo. Depois acompanhei um pouco sua carreira e sempre lia suas entrevistas. Era um escritor de fôlego e de temas profundos. Este texto dele eu usei para desenvolver um artigo para a disciplina de pós-graduação no qual eu trazia uma proposta de análise linguística.
(Quem souber os créditos da imagem, por favor, avisar-me)
A prece a Santo Isidoro de Sevilha foi elaborada especialmente para os internautas principiantes. O suplicante típico será o homem de meia idade, recém-iniciado nos mistérios da computação (para ele mistérios dolorosos, nunca gozosos) e que a murmurará com testa franzida, olhar ansioso e lábios trêmulos. Este devoto, que vê na informática uma invenção do demônio, planejada para abalar a fé dos espíritos fracos, espera no santo nada menos do que um milagre.
Valei-me, Santo Isidoro,
diante das teclas por ti clamo e choro.
Valei-me, Santo Isidoro,
na casa da ignorância eu moro.
Valei-me, Santo Isidoro,
por teu socorro imploro.
O computador, Santo Isidoro,
ameaça: decifra-me ou te devoro.
Salva minha cara,
Santo Isidoro,
pois de vergonha eu até coro:
de computação, Santo Isidoro, todo manual eu devoro.
É inútil, Santo Isidoro, porque em nada melhoro.
Teu socorro, Santo Isidoro, é como água para o cloro.
Sem ele, Santo Isidoro,
A internauta não me arvoro.
Por isso, Santo Isidoro,
A ti sem cessar eu oro.
Com fé: de profundis me trazes,
Santo Isidoro,
E à superfície enfim afloro.
Teu e-mail, Santo Isidoro,
Será para sempre meu sagrado foro.
Repetir esta oração três vezes, antes de ligar o computador. A seguir entrar na Internet. Atenção, porém: cuidado com mensagens supostamente enviada, da corte celestial, por alguém que se intitula Isidoro. Bem pode ser um vírus. E contra ele não haverá santo que lhe proteja.
Folha de São Paulo, 19 de fevereiro de 2001.
**********************************************************************************
Como vocês podem ver, faz tempo que tenho este texto.
Uma ótima semana
Abç
Tânia
Meu encantamento com este texto foi imediato, até porque na época dei muita risada imaginando a pessoa rezando para o Santo. Depois acompanhei um pouco sua carreira e sempre lia suas entrevistas. Era um escritor de fôlego e de temas profundos. Este texto dele eu usei para desenvolver um artigo para a disciplina de pós-graduação no qual eu trazia uma proposta de análise linguística.
(Quem souber os créditos da imagem, por favor, avisar-me)
PRECE DE INTERNAUTA
(Moacyr Scliar)
O papa João Paulo 2º está pensando em nomear Santo Isidoro de Sevilha como padroeiro dos usuários da Internet. Mundo, 7. Fev. 2001.
A prece a Santo Isidoro de Sevilha foi elaborada especialmente para os internautas principiantes. O suplicante típico será o homem de meia idade, recém-iniciado nos mistérios da computação (para ele mistérios dolorosos, nunca gozosos) e que a murmurará com testa franzida, olhar ansioso e lábios trêmulos. Este devoto, que vê na informática uma invenção do demônio, planejada para abalar a fé dos espíritos fracos, espera no santo nada menos do que um milagre.
Valei-me, Santo Isidoro,
diante das teclas por ti clamo e choro.
Valei-me, Santo Isidoro,
na casa da ignorância eu moro.
Valei-me, Santo Isidoro,
por teu socorro imploro.
O computador, Santo Isidoro,
ameaça: decifra-me ou te devoro.
Salva minha cara,
Santo Isidoro,
pois de vergonha eu até coro:
de computação, Santo Isidoro, todo manual eu devoro.
É inútil, Santo Isidoro, porque em nada melhoro.
Teu socorro, Santo Isidoro, é como água para o cloro.
Sem ele, Santo Isidoro,
A internauta não me arvoro.
Por isso, Santo Isidoro,
A ti sem cessar eu oro.
Com fé: de profundis me trazes,
Santo Isidoro,
E à superfície enfim afloro.
Teu e-mail, Santo Isidoro,
Será para sempre meu sagrado foro.
Repetir esta oração três vezes, antes de ligar o computador. A seguir entrar na Internet. Atenção, porém: cuidado com mensagens supostamente enviada, da corte celestial, por alguém que se intitula Isidoro. Bem pode ser um vírus. E contra ele não haverá santo que lhe proteja.
Folha de São Paulo, 19 de fevereiro de 2001.
**********************************************************************************
Como vocês podem ver, faz tempo que tenho este texto.
Uma ótima semana
Abç
Tânia
Adorei ver pelo Google que alguém mais se apegou ao texto.
ResponderExcluirEstou usando-o em minha tese de Doutorado em Sociologia. Em alguns meses ela deve estar publicada em http://www.rodrigomarques.info/homo-academicus.html
A utilizo na discussão das possibilidades de atores sociais na criação de alguma forma de "segurança digital". Com o trabalho pronto depois explico melhor. Como utilizaste?